sexta-feira, 13 de junho de 2008

SENTAR-SE À JANELA

Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião.
A ansiedade de voar era enorme.
Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem.
Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.
Tudo era novidade e fantasia.
Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.
As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia.
No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.
O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
Perdi o encanto.
Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.
As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.
Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.
O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona.
Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.
Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela.
Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.
E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeiravez que voara.
Senti nova e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?
Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.
Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.
Por essa razão, vale a pena sentar próximo à janela para não perder nenhum detalhe.
Afinal, a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos.

Lindo texto recebido por e-mail e sem autoria registrada.
Que pena, gostaria de conhecer o autor.

Obrigado, TeTê Abud, pela colaboração.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ei Tio Sam!
Posso chamá-lo assim?
Adorei o texto! Especialmente a parte de "se sentar na janela" e apreciar tudo, ou melhor, todos que temos ao nosso redor. Confesso que mesmo não viajando muito de avião tenho estado no corredor pr muitas viagens...
É um prazer conhecê-lo! E quem nos apresentou foi um rapaz que tem uma especial e adorável admiração por você. Acho que a dica n foi muito boa...
Ele também fala muito bem o português... hum... essa dica foi pior que a primeira...
E não é brasileiro... ah! agora já conseguiu pensar em algumas pessoas, não é!
É o Gau (Gaurav para os não íntimos, que não é o seu caso!). O conheci ano passado viajando pela Índia. Ele falando de vc... eu pensando no meu pai... Só que meu pai é muuuuuuuuuuuuuuuuuuito cabeça dura! E isso ele não falou de você! (falta de tempo? rsrsrsrsrs!) Brincadeira!
Deixo aqui o meu abraço e um suspiro de alegria em "conhecê-lo" um pouquinho além das palavras do Gau.
Fique em paz, com saúde e viajando sempre nas janelas, tá!
Espero que um dia possa conhecê-lo!
Grande abraço!
Lílian
lilianmcosta@hotmail.com

Anônimo disse...

Diz um provérbio: quem muito corre pouco alcança ou quebra as pernas.Quem corre sempre não consegue apreciar a natureza e gozar a vida.A pressa é inimiga da perfeição, é outro provérbio.O artista só trabalha quando tem inspiração.Há vinte anos estava escrevendo a história do colégio onde trabalhava e depois de colocar tudo em prosa,nada mais que quatrocentas e trinta páginas escritas à mão,tentei fazer a mesma história em versos. Consegui escrever duzentas e cinquenta estrofes, o que corresponde a 1.000 versos.Pois bem,em certos dias não conseguia escrever um verso sequer.Em outros dias,enquanto a inspiração funcionava, não parava de meter tudo no papel,literalmente,pois eu ainda não tinha a técnica da digitação no computador.Hoje tudo já está nos arquivos do computador e lá posso ainda corrigiras falhas.Ainda mais um provérbio: quem tem pressa come cru,sem apreciar os temperos que dão sabor às comidas.Ningúém é insubstituível em qualquer trabalho ou cargo.Aquele que se diz insubstituível sai e entra outro melhor que ele.Correria só atrabalha o próprio corredor.Esgota-se,perde a saúde e acaba parando de vez.É melhor a lição do seguinte provérbio: devagar se vai ao longe.