sábado, 14 de junho de 2008

IRRETOCÁVEL de Silvana Duboc.

Tenho cabelos loiros, pintados, para esconder os fios brancos.
Não me lembro exatamente em que ano eles começaram a branquear...
Tenho algumas rugas em volta dos olhos, também não me recordo quando elas começaram a aparecer.
Tento disfarçá-las, tantas novidades no campo da dermatologia, achei por bem aproveitá-las.
Do corpo não cuido quase, mas o tenho bem feito só recentemente entrei para uma academia por ordem médica.
Ele me disse que na minha idade preciso de exercícios.
Mas falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica.
Das minhas unhas cuido semanalmente, penso que elas são uma porta de visita.
Unhas maltratadas causam uma péssima impressão.
De uns dois anos pra cá descobri os cremes e aí compro um aqui, outro ali e no final não uso nenhum, mas compro, só de olhá-los na prateleira já percebo que as rugas se retraem.
Sou assim, vaidosa, mas não sou em excesso, penso que sou na medida certa, na medida correta para uma mulher.
Enfim os anos passam e as marcas que eles deixam em nós, não temos como conter.
Nem pretendo isso.
Acho que cada marca que meu corpo carrega tem uma linda história.
Às vezes me pego na frente do espelho descobrindo uma nova ruguinha e já me coloco a pensar o que a causou.
Depois reencontro com outra que já está lá vincada há anos e me recordo que ela apareceu quando perdi um grande amor.
Poderia enumerar também a história de cada fio de cabelo branco.
Foram filhos, maridos, amigos que colocaram eles ali.
Não quero me desfazer de nenhuma dessas marcas, apenas amenizá-las, acho que mereço isso.
A vida me deve isso.
Atualmente a parte que merece mais atenção minha tem sido a cabeça.
Tento todos os dias colocá-la no lugar, equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias.
Corpo e mente caminham juntos, se um estiver em estado lastimável o outro provavelmente vai se deteriorar.
Não escondo minha idade, não adiantaria falar que tenho trinta e cinco e apresentar um filho de trinta e oito e outro de quarenta.Portanto eu confesso,tenho mais de cinqüenta anos
metade deles, bem vividos, a outra metade muito sofridos.
Mas é exatamente aí que está o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um pouco, das lágrimas aos sorrisos e ambos me fizeram ser essa pessoa que sou hoje.
Ficaram as rugas no rosto e na alma, mas também ficaram sorrisos em ambos.
Minhas rugas mais bonitas são aquelas marcas de expressão que eu adquiri por tanto sorrir, muitas vezes, quando o coração chorava.
Vera Lúcia

Vale a pena ter amigos que confiam na gente. Esta mensagem, por exemplo, me foi passada pela amiga, virtual ainda, Isabel.
Digo virtual ainda porque tenho imensa vontade de conhecê-la pessoalmente.
Obrigado Isabel.

2 comentários:

Anônimo disse...

É claro que a fatalidade do tempo não respeita nem reis,nem papas,nem ricos nem pobres,nem crianças nem idosos.Os sinais aparecem cedo ou tarde.Mas você já viu pessoas ,especialmente mulheres, que apesar de seus 80 ou 90 ou 100 anos sempre procuram se embelezar e se sentem satisfeitas quando o espelho lhes mostra alguma memhora? Mas o importante é o que a cabeça lhes pode revelar: alegria com a vida e até uma juventude ou uma maturidade agradável,é que a idade para estas pessoas está mais na cabeça (não os cabelos brancos) com o otimismo e o entender a vida com satisfação embora os anos já pesem.

Anônimo disse...

Texto inspirado! Só alguém de bem com a vida poderia escrever com tanta ternura, simplicidade e aceitação sobre a passagem dos anos. Lindo!!!
José carlos costa