domingo, 18 de maio de 2008

PEGANDO PESADO
(Texto recebido por e-mail, em 18/05/08 às 14:18:21)

Juiz escreve a Ziraldo e Jaguar
Prezados Ziraldo e Jaguar:

Eu fui fã nº 1 de O Pasquim. Em seguida saberão por quê. Por isto me sinto traído pela atitude de vocês (Ziraldo e Jaguar). Vocês, recebendo essa indenização milionária,fizeram exatamente aquilo que criticavam na época: o enriquecimento fácil e sem causa emergente da e na estrutura ditatorial.
Na verdade,vocês se projetaram com a Ditadura.Vocês se sustiveram da Ditadura.
Vocês se divertiram com a Ditadura. Está bem, vocês sofreram com a Ditadura, mas, exceto aquela semanada na cadeia - que parece não foi tão sofrida assim-, nada que uma entrevista regada a uísque e gargalhadas na semana seguinte não pudesse reparar.
A cada investida da Ditadura vocês se fortaleciam e a tiragem seguinte do jornal aumentava consideravelmente.
Receber um milhão de reais e picos por causa daquela semana, convenhamos, é um exagero, principalmente quando se considera que o salário mínimo no Brasil é de R$ 480,00. Por mês... Vocês não podem argumentar que a Ditadura acabou com o jornal. Seria a mais pura mentira, se é que a mentira pode ser pura. O O Pasquim acabou porque vocês se perderam. O Pasquim acabou nos estertores da Ditadura porque vocês ficaram sem o motor principal de seu sucesso, a própria Ditadura.
Vocês se encantaram com a nova ordem e com a possibilidade de a Esquerda dominar este país que não souberam mais fazer humor. Tanto que mais tarde voltaram de Bundas - há não muitos anos - e de bunda caíram porque foram pernósticos e pedantes.
Vocês só sabiam fazer uma coisa: criticar a Ditadura e não seriam o que são sem ela. Eu vi o nº 1 de O Pasquim num tempo em que não tinha dinheiro para adquiri-lo. Mais tarde, estudante em Florianópolis, passei a comprá-lo toda semana na rua Felipe Schmidt, próximo à rua 7 de Setembro, numa banca em que um rapaz chamado, se não me engano Vilmar, reservava um exemplar para mim.
Eu pagava no fim do mês.
Formado em Direito, em 1976 fui para Taió. Lá assinei o jornal que não chegava na papelaria do meu amigo Horst. Em 1981 vim para o Rio Grande do Sul e morando,inicialmente, em Iraí, continuei assinante. Em fins de 1982 fui promovido para Espumoso e sempre assinante. Eu tenho o nº 500 de O Pasquim, aquele que foi apreendido nas bancas e que os assinantes receberam... Nessa época, não sei se lembram, o jornal reduziu drasticamente seu número de folhas. Era a crise.
Era um arremedo do que fora, mas ainda assim conservava alguma verve. A Ditadura estava saindo pelas portas dos fundos e vocês pelas portas da frente, famosos e aplaudidos.
Vocês lançaram uma campanha de assinaturas. Eu fui a campo e consegui cinco ou seis.Em Espumoso! Imaginei que se cada assinante conseguisse cinco assinaturas, ajudaria muito.
Eu era Juiz de Direito. Convenhamos: não fica bem a um Juiz sair vendendo assinatura de jornal. Mas fiz isto com o único interesse de ajudar o Pasquim a se manter. Na verdade, as assinaturas foram vendidas a amigos advogados aos quais explanei a origem, natureza e linha editorial do jornal. Uns cinco ou seis adquiriram assinaturas anuais. No máximo dois meses depois todos paramos de receber o jornal, que saiu de circulação.
O O Pasquim deu o calote... Eu fiquei com cara de tacho e, como se diz por aqui, mais vexado que guri cagado. Sofri constrangimento por causa de vocês.
Devo pedir indenização por isto? Não.Esqueçam! Mas agora que vocês estão milionários, procurem nos seus registros e devolvam o dinheiro dos assinantes de Espumoso que pagaram e não receberam a assinatura integral. Naquele tempo vocês não tinham como fazê-lo.
Agora têm. Paguem proporcionalmente, mas com juros e correção monetária, como manda a lei. Caso contrário, além de traidores, serei obrigado a considerá-los também caloteiros.'
Ilton Dellandrea
Juiz de Direito

4 comentários:

Anônimo disse...

SERGIO,
Parabens pelo seu blog. Esta carta do Juiz foi ótima. Também eu decepcionei-me com os dois, porém num mundo onde a falta de ética ou moral perante o dinheiro tornou-se tão banal eles acham que "já que todos agem assim" por que eu não o farei?
Isabel.

Anônimo disse...

As vezes a desgraça de uns é a salvação de outros.É a lei do sobe e desce.Vejam a história dos árabes. Está pontilhada de sobe e desce.Desde Maomé e pedrcorrendo os séculos vemos como que este povo ora manda ora desmanda comandodados pelas contigências religiosas,políticas ou economicas.Hoje a grande mola que movimengta o mundo é o petróleo.Mas já estamos prevendo o declínio deste poderoso combustível.Os espertos se aproveitam das boas ocasiões e chegam a ficar ricos.Isto é crime?

Anônimo disse...

Prezado Sérgio,

Em primeira mão, gostaria de lhe dizer que cheguei até você por intermédio do José Resende, que vim a conhecer na rede de contatos virtuais entre ex-salesianos. Ele achou, acertadamente, que eu haveria de gostar de conhecer seu blog, segundo ele, recém-inaugurado. Essa notícia ele me deu hoje pela manhã. Logo acessei o Tio Sam e li todas as postagens, recentes e antigas. Mais adiante, lerei os comentários. Alguns textos , já conhecia, não importa, pois valeu a pena conhecer os outros, especialmente alguns . Gostei muito conhecer a história que há por trás das músicas mencionadas. Gostei tanto que vou repassá-las para meus contatos virtuais. Sei que eles também vão adorar.
Achei justíssima a, desculpe a expressão, bronca do Juiz Ilton Dellandrea sobre as milionárias indenizações pagas a Ziraldo e Jaguar. Entretanto, gostaria de fazer uma pequena reflexão, não propriamente sobre a indignação manifestada pelo ilustre magistrado que, acho, será da maioria dos que a leram.
Pra mim, a questão é mais séria, porque outros tantos ziraldos e jaguares também receberam indenizações milionárias por dormirem uma ou duas noites, uma semana que seja, no xilindró.
Na linguagem jurídica, a expressão “in status assertiones” ou, a menos usada, teoria da asserção, significa que a petição inicial reúne as condições da ação, isto é, simplificando grosseiramente, que o relato, verossímel, está de conformidade com as regras jurídicas fundamentais relativas aos pressupostos processuais preexistentes. Em linguagem comum, o parágrafo anterior poderia ser dito assim: a história está bem contada e cumpriu o ritual para ser apreciada.
Ora, esse deve ter sido o caso dos ziraldos da vida (há outros, sim, inclusive jornalistas famosos). A petição que ele dirigiu a tal comissão, além de ter atendido a tal teoria da asserção, foi, no mérito, decidida favoravelmente, reconhecendo-lhes o direito de receber as milionárias indenizações. Se há uma legislação que assegura a eles e a alguns outros, na verdade muitos outros, o recebimento dessas indenizações milionárias, num país carente de saúde pública, segurança, escolas e tantas outras garantias constitucionais, talvez fosse mais apropriado dizer carências constitucionais, há, certamente, parafraseando o poeta inglês, algo de muito podre no reino brasiliense. Mais, ainda se a legislação não tiver contemplado esses absurdos, e, eles, com a complacência de funcionários lenientes, pela via torta de expedientes que prefiro não nomear, a tenham logrado obter.
Até a próxima. Sucesso e muitas visitas ao seu blog.
Abraços,
Jose Carlos costa

Anônimo disse...

Obrigado José Carlos.
Fiquei satisfeito em conhecê-lo e ao ler seu comentário, alias de muito peso e consistência.
Esses dois nomes expostos pelo Meritíssimo Juiz, são simplesmente um chamado para tantos outros que se se colocam na mesma situação.
Há tantos, como sua descrição, que se aproveitam de uma situação, para se locupletar facilmente, talvez pela incapacidade de fazê-lo decentemente ou até porque não têm idoneidade nem preparo para tal. Então usam das mazelas dos incompetentes espertalhões.
Aguardo novas visitas.
Com um abraço do Sérgio.